sábado, 23 de julho de 2011

MOI, MYSELF et NO ONE ELSE



Acordo longe de casa
É tão mais legal olhar o céu
No meio do mato, olhando a mata
Sozinho na rede com no one else

Tô cansado paca, dor desgraçada
Mas tudo parece tão legal
Eu não faço nada, eu só dou risada
E penso e viajo com moi

No ar
Mandalas de nuvens pra olhar
O ar
Um mar de nuvens pra pisar

Sesto deitado no rio
O ar é tão puro e macio
Viro moleque, que tá de pileque
E tiro um tempo pra myself

Marcel,
Você é que sabe viver
Ao léu,
Só a kombi, rebeca e você

Não quero cigarro industrializado
Não quero um resquício de civilização
Quero andar pelado, ayahuascado
Quero ser bicho do mato

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O HOMEM

Vamos seguindo numa eterna viagem
Aquele que fica parado não sai do lugar
Vamos seguindo nossa eterna viagem
Quem sente o pé apertado é melhor descalçar


Quem foi que disse que os homens não sabem viver?
Eles sabem, mas têm medo de escolher
Quem foi que disse que os homens não sabem amar?
Eles sabem, mas têm medo de se entregar


Mas vamos seguindo nessa eterna viagem
Cumprindo a nossa jornada missão a missão
E vamos cumprindo nossa terrena jornada
Trilhando os caminhos abertos, a chave é o perdão


Me diz o que é mais puro
O carro ou a criança?
Me diz o que é mais bonito
A louca corrida ou a dança?


E me diz quem é mais sábio
Quem vive ou quem leu toda a estante?
E o que é mais perfeito
A transgenia ou a mulher gestante?


E tudo azul
Tudo lindo, tudo blue
E tudo blue
Tudo limpo, tudo azul


O homem não é de nada dono
Pois tudo é dono do homem
O homem se acha sabido
É apenas narciso
Perdido no espelho tentando
Entender a si mesmo, o homem


Mas não entende nada
Tudo é 0 e 1, tudo x-y
Tudo pode caber no papel cartesiano!
Entenda a criação!
O Multiverso é tão vasto, opulento, infinito
Três dimensões é demasiado pouco!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

CARTA DO CACIQUE MUTUA A TODOS OS POVOS DA TERRA



"O Sol me acordou dançando no meu rosto. Pela manhã, atravessou a palha da oca e brincou com meus olhos sonolentos. O irmão Vento, mensageiro do Grande Espírito, soprou meu nome, fazendo tremer as folhas das plantas lá fora.

Eu sou Mutua, cacique da aldeia dos Xavantes. Na nossa língua, Xingu quer dizer água boa, água limpa. É o nome do nosso rio sagrado.


Como guiso da serpente, o Vento anunciou perigo. Meu coração pesou como jaca madura, a garganta pediu saliva. Eu ouvi. O Grande Espírito da floresta estava bravo.

Xingu banha toda a floresta com a água da vida. Ele traz alegria e sorriso no rosto dos curumins da aldeia. Xingu traz alimento para nossa tribo.

Mas hoje nosso povo está triste. Xingu recebeu sentença de morte. Os caciques dos homens brancos vão matar nosso rio.

O lamento do Vento diz que logo vem uma tal de usina para nossa terra. O nome dela é Belo Monte. No vilarejo de Altamira, vão construir a barragem. Vão tirar um monte de terra, mais do que fizeram lá longe, no canal do Panamá.

Enquanto inundam a floresta de um lado, prendem a água de outro. Xingu vai correr mais devagar. A floresta vai secar em volta. Os animais vão morrer. Vai diminuir a desova dos peixes. E se sobrar vida, ficará triste como o índio.

Como uma grande serpente prateada, Xingu desliza pelo Pará e Mato Grosso, refrescando toda a floresta. Xingu vai longe desembocar no Rio Amazonas e alimentar outros povos distantes.

Se o rio morre, a gente também morre, os animais, a floresta, a roça, o peixe tudo morre. Aprendi isso com meu pai, o grande cacique Aritana, que me ensinou como fincar o peixe na água, usando a flecha, para servir nosso alimento.

Se Xingu morre, o curumim do futuro dormirá para sempre no passado, levando o canto da sabedoria do nosso povo para o fundo das águas de sangue.

Hoje pela manhã, o Vento me levou para a floresta. O Espírito do Vento é apressado, tem de correr mundo, soprar o saber da alma da Natureza nos ouvidos dos outros pajés. Mas o homem branco está surdo e há muito tempo não ouve mais o Vento.

Eu falei com a Floresta, com o Vento, com o Céu e com o Xingu. Entendo a língua da arara, da onça, do macaco, do tamanduá, da anta e do tatu. O Sol, a Lua e a Terra são sagrados para nós.

Quando um índio nasce, ele se torna parte da Mãe Natureza. Nossos antepassados, muitos que partiram pela mão do homem branco, são sagrados para o meu povo.

É verdade que, depois que homem branco chegou, o homem vermelho nunca mais foi o mesmo. Ele trouxe o espírito da doença, a gripe que matou nosso povo. E o espírito da ganância que roubou nossas árvores e matou nossos bichos. No passado, já fomos milhões. Hoje, somos somente cinco mil índios à beira do Xingu, não sei por quanto tempo.

Na roça, ainda conseguimos plantar a mandioca, que é nosso principal alimento, junto com o peixe. Com ela, a gente faz o beiju. Conta a história que Mandioca nasceu do corpo branco de uma linda indiazinha, enterrada numa oca, por causa das lágrimas de saudades dos seus pais caídas na terra que a guardava.

O Sol me acordou dançando no meu rosto. E o Vento trouxe o clamor do rio que está bravo. Sou corajoso guerreiro, não temo nada.

Caminharei sobre jacarés, enfrentarei o abraço de morte da jiboia e as garras terríveis da suçuarana. Por cima de todas as coisas pularei, se quiserem me segurar. Os espíritos têm sentimentos e não gostam de muito esperar.

Eu aprendi desde pequeno a falar com o Grande Espírito da floresta. Foi num dia de chuva, quando corria sozinho dentro da mata, e senti cócegas nos pés quando pisei as sementes de castanha do chão. O meu arco e flecha seguiam a caça, enquanto eu mesmo era caçado pelas sombras dos seres mágicos da floresta.

O espírito do Gavião Real agora aparece rodopiando com suas grandes asas no céu.

Com um grito agudo perguntou:
Quem foi o primeiro a ferir o corpo de Xingu?

Meu coração apertado como a polpa do pequi não tem coragem de dizer que foi o representante do reino dos homens.

O espírito do Gavião Real diz que se a artéria do Xingu for rompida por causa da barragem, a ira do rio se espalhará por toda a terra como sangue e seu cheiro será o da morte.

O Sol me acordou brincando no meu rosto. O dia se abriu e me perguntou da vida do rio. Se matarem o Xingu, todos veremos o alimento virar areia.

A ave de cabeça majestosa me atraiu para a reunião dos espíritos sagrados na floresta. Pisando as folhas velhas do chão com cuidado, pois a terra está grávida, segui a trilha do rio Xingu. Lembrei que, antes, a gente ia para a cidade e no caminho eu só via árvores.

Agora, o madeireiro e o fazendeiro espremeram o índio perto do rio com o cultivo de pastos para boi e plantações mergulhadas no veneno. A terra está estragada. Depois de matar a nossa floresta, nossos animais, sujar nossos rios e derrubar nossas árvores, querem matar Xingu.

O Sol me acordou brincando no meu rosto. E no caminho do rio passei pela Grande Árvore e uma seiva vermelha deslizava pelo seu nódulo.

Quem arrancou a pele da nossa mãe? - gemeu a velha senhora num sentimento profundo de dor.

As palavras faltaram na minha boca. Não tinha como explicar o mal que trarão à terra.

Leve a nossa voz para os quatro cantos do mundo, clamou o Vento, ligeiro soprará até as conchas dos ouvidos amigos, ventilou por último usando a língua antiga, enquanto as folhas no alto se debatiam.

Nosso povo tentou gritar contra os negócios dos homens. Levamos nossa gente para falar com cacique dos brancos. Nossos caciques do Xingu viajaram preocupados e revoltados para Brasília. Eu estava lá e vi tudo acontecer.

Os caciques caraíbas se escondem. Não querem olhar direto nos nossos olhos. Eles dizem que nos consultaram, mas ninguém foi ouvido.

O homem branco devia saber que nada cresce se não prestar reverência à vida e à natureza. Tudo que acontecer aqui vai voar com o Vento que não tem fronteiras. Recairá um dia em calor e sofrimento para outros povos distantes do mundo.

O tempo da verdade chegou e existe missão em cada estrela que brilha nas ondas do Rio Xingu. Pronta para desvendar seus mistérios, tanto no mundo dos homens como na natureza.

Eu sou o cacique Mutua e esta é minha palavra! Esta é minha dança! E este é o meu canto!

Porta-voz da nossa tradição, vamos nos fortalecer. Casa de Rezas, vamos nos fortalecer. Bicho-Espírito, vamos nos fortalecer. Maracá, vamos nos fortalecer. Vento, vamos nos fortalecer. Terra, vamos nos fortalecer.

Rio Xingu! Vamos nos fortalecer!

Leve minha mensagem nas suas ondas para todo o mundo: a terra é fonte de toda vida, mas precisa de todos nós para dar vida e fazer tudo crescer.

Quando você avistar um reflexo mais brilhante nas águas de um rio, lago ou mar, é a mensagem de lamento do Xingu clamando por viver.

Cacique Mutua"

quarta-feira, 25 de maio de 2011

VÔ MIMBORA

Vô mimbora, vô mimbora
Vô mimbora, amém
Vô mimbora que eu num guento esse trem
Vô mimbora, amém


Vamo embora, vamo embora
Vamo embora, amor
Vamo embora que eu num guento essa dor
Vamo embora, amor

segunda-feira, 16 de maio de 2011

CIDADE

Ácaro, poeira, fungo
Verme, bactéria
Cimento, tijolo, concreto armado
Fumaça de óleo diesel
Queimando a gasolina
O álcool, tabaco, pólvora
E mato e bicho
A gente tem que engolir!
Por quê? Pra respirar
Alguém respira amor?
Alguém respira amor! Eu sei


Guardando o lixo na saída da cidade
Guardando a saudade, guardando
A vergonha, guardando a verdade
Guardando, guardando a vontade
Entulho, bugiganga e sei lá o que mais
Preciso ter onde guardar!
Por quê?
Onde guardaram o amor?
Quem foi que guardou o amor?


A cidade não é pra gente
A cidade é pros doentes
Da alma e do coração
Dos rins e do pulmão


A cidade não é da gente
A cidade é dos doentes
Cidade não é pra você
Cidade é um mau viver


Ônibus que não pára pro pedestre
Não tem faixa pra cruzar a via rápida
Por onde eu vou passar?
Os carros vêm matando as bicicletas
Não dá na rua, não dá na calçada, não
Não dá em nenhum lugar
E onde é que eu posso estacionar?


Avião, helicóptero e carro passando
Torcida gritando e alarme tocando
Buzina, campainha, passarinho cantando
E zumbido de planos astrais
A gente tem que ouvir!
Pra viver aqui


Sem falar, sem sistematizar
Sem muito alarmar
Desprendendo-se da babilônia
Como a folha que cai
Dançando no vento


Maturidade é aceitar a...
A responsabilidade de se ser
O que se veio ser
Seja
A que preço for
Meu Deus é Eu Sou


Você está disposto?
Eu olho pro seu rosto e percebo
Nossa carne é sobra
Como uma embalagem
Sem produto


A gente é o que tá dentro
A gente é mais
A gente é muito, muito mais
Mas não é aqui


Jesus Cristo Santo ressuscitou quando Páscoa
Sai Baba também fez sua passagem na Páscoa
Eu nasci na Páscoa
São Jorge da Capadócia fez a sua passagem
Perto do dia de minha nascença
Não existe
Coincidência

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ENCONTRO COM DEUS (césar l miguel)



Naquele dia que eu encontrei com Deus
No meu coração se abriu um portal
Compaixão sem fim tomou conta de mim
Um amor por tudo, sagrado, incondicional

Despertando o Cristo
Aprendendo a ser gente
Ouvindo o chamado
Que não se ouve, se sente
Eu me encontrei com Deus

Me sinto mais forte
Pra enfrentar de frente
Tudo o que na vida
Acontece com a gente
Pró-curando a ferida
Silenciando a mente

Levo no peito o Cruzeiro do Sul
Gosto de mim, delas, deles, de tu
Tudo o que eu gosto, eu gosto por perto
Levo na testa meu espírito aberto


Todo dia


Eu me encontro com Deus
Antes de dormir eu abro um portal
Tudo que é ruim eu expulso de mim
Chamo o que é bom, respiro fundo
E retorno imortal

Eu sou - imortal
Você - imortal - é também - imortal
Todos juntos, - imortais - um conjunto de eus - imortais
Todos, um só Deus - imortal

Eu me encontro com Deus - imortal
O meu coração se abre como um portal
Eu me encontro com Deus - imortal - todo dia
Compreensão sem fim vai passando por mim
O movimento de tudo, o yang e o yin

O amor que tudo permeia
Preenche meu corpo, minh'alma, meu ser
O meu vaso transborda alegria
Contorce meu corpo tentando caber
Clamo a Deus Pai e Mãe
Que acuda esse filho aprendendo a viver
O meu corpo se curva ao meu ser
E ama a Gaia que um dia há de lhe comer

Eu me encontrei com Deus!
Eu me encontrei em Deus!

(água verde - a casa torta)